terça-feira, julho 10, 2007

Será?

Como sabem aqueles que me conhecem (e que são os únicos que se dão ao trabalho de ler o meu deprimente blog looool) estou agora, juntamente com os meus colegas, a estagiar no Egas e é sobre isso que vou hoje escrever, em ves de tar a terminar o meu processo.

Primeiro tenho a dizer que este estágio tem sido de longe o melhor de todos os que já tive, a nosas enfermeira orientadora é 5 estrelas e além de nos ensinar também sabe brincar, rir ou falar a sério quando é preciso, os meus colegas continuam a ser 5 estrelas como já estou habituado, os enfermeiros do serviço são muito simpáticos e esclarecem-nos as dúvidas sempre que a gente com ar de dúvida as apresenta (embora um ou outro esteja sempre a perguntar "ainda não chumbaram?"), o serviço apesar de por vezes ser um bocado bagunçado é até bastante bem apetrechado e o trabalho até se faz bem apesar de já levar-mos quase 2 meses de trabalho nas pernas, algo que para nós é recorde, e o cansaço já se comece a abater sobre nós.

Queria falar um pouco sobre uma sensação que tenho tido e que não sei se já tiveram, aquela sensação de "mas será que fiz assim algo de tão especial?". Eu ponho esta questão porque hoje quando me vinha embora os meus 2 utentes (a quem deixo um abraço) quase me queriam obrigar a ficar ali.

Um deles, senhor acamado, com 1001 problemas e maleitas, bastante farto de ali estar e com um olhar de quem diz "vem cá mas com cuidado que dói-me tudo" agarrou-me na mão e ficou ali um bocado deposi de lhe dizer que era hora de me ir embora olhou para mim e disse-me "mas já?", expliquei-lhe que alguém viria para me substituir e que na manhã seguinte voltaria ao que o senhor meio a brincar meio a sério me responedu "tá bem, mas vê lá se não demoras muito".

O segundo, senhor que ia já para casa, com menos problemas mas também com alguns, muito conversador e sempre a falar mesmo que fosse para o ar, apenas me apertou a mão e depois de eu lhe desejar as melhoras e felicidades apenas foi capaz de dizer "muito obrigado por ter tratado de mim" antes de irromper em lágrimas e, pela primeira vez pelo menos na minha presença, não ter sido capaz de dizer nenhuma palavra tendo ficado a soluçar e a enxugar as lágrimas.

Agora pergunto seremos nós dignos de tal gratidão, será que fazemos um trabalho assim tão grandioso, com um impacto tão grande não apenas na saúde física destas pessoas mas também na mental? Gosto de pensar que sim, talvez a minha parte convencida, a minha parte mais humilde continua a acreditar que não somos dignos de choro e tamanha consideração porque apenas nos é pediod que desempenhemos a nossa profissão de maneira profissional e digna.
Talvez seja apenas por sermos nós que ali estamos 8 horas por dia apenas para eles, com um pouco da pureza, energia e inocencia das crianças que ainda não deixamos de ser e um pouco da nossa adultice que o trabalho nos obriga a ter, perante aquelas pessoas que já tanto viveram e que conosco se sentem À vontade para perguntar "ela é a tua namorada?" ou dizer "a menina tem 10 anos?" com um esboçar de sorriso como quem diz "to a brincar contigo jovem".

Gosto de pensar que o nosso trabalho é mesmo importante e talvez enquanto achar isso consiga manter algum gosto por esta profissão porque se calhar quando esquecer isso, também perderei o gosto.

Quem quiser, amigos e colegas futuros enfermeiros, que comente, os outros que não o são, também podem, eu deixo lol.

4 comentários:

Scarlett Farm disse...

"Que deus lhe pague, porque eu não tenho nada para lhe dar." Foram as ultimas palavras coerentes de um dos meus utentes, que passado um dia faleceu. Nesse momento, as lágrimas correram nos meus olhos e nos dele, as nossas mãos apertaram-se com intensidade, e os olhos não conseguiam fugir um do outro. A pureza dos dias que tinhamos vivido, a sua bondade imensa em me ter deixado entrar na sua vida, intimidade, e últimos dias de vida, foram, são e serão bases para continuar, bases para afirmar que poderia fazer esta profissão o resto da minha vida... Ela dá-me a felicidade, e um sentido para a vida, que só nós, enfermeiros, de corpo e alma, abertos para nós mesmos e para os outros, podemos sentir e agradecer a uma entidade qualquer por nos propocionar tais momentos tão preciosos ao longo da nossa vida...
Concordas comigo melga =)?

Joel Bavaco disse...

Não, não concordo, mas é apenas porque foste tu que comentas-te, se fosse outa pessoa eu dizia que sim, que concordava plenamente :P

Scarlett Farm disse...

depois eu é que sou do contra.......=P

pikenina disse...

pois � tb dou por mim a pensar ser� k somos dignos de tamanha gratidao e de tamanho carinho? sim porque para alem d toda a gratidao com que nos tratam, tb nos tratam com muito carinho. Talvez seja por estarmos ali so para eles, dando-lhes toda a aten�ao que eles precisam, aten�ao que se calhar mais ninguem lhes, ou pk a familia nao os visita ou pk os profissionais de saude nao t�m tempo para estar com cada um, ouvindo cada um dos seus problemas...� isso que nos tem tornado tao especiais aos olhos destas pessoas, e tambem o carinho e o sorriso com que xegamos todas as manhas(apesar do cansa�o)e lhes dizemos bom dia. Recordo uma senhora (que tu sabes bem km � que apesar de nao dizer nada, ou o que dizia nao ser perceptivel, so o olhar dela, so o sorriso ja por si so demonstrava o que kria dizer, e foi assim que nos come�mos a perceber uma a outra. Uma outra senhora, que neste momento tb ja nao esta la, dizer-nos "obrigada" no meio de l�grimas...sao estas pequenas grandes coisas que nos dao for�as para continuar, mesmo quando elas ja nao existem...Apesar de tudo vou ter saudades destas pessoas, vou ter saudades que me digam "�s xata" para logo depois "tava a brincar" (lololol) e mesmo que d�em 10 anos, vou ter saudades de ouvir isso....enfim est� a xegar ao fim mais uma etapa, e, mesmo que nem tudo corra bem, podemos ter a certeza que sa�mos daki mt mais ricos mais k nao seja por termos conhecido estas pessoas e por termos a possibilidade de fazer algo por eles...